Imagine se as seguintes situações fossem apresentadas para uma pessoa:

Você prefere receber R$ 20,00 agora, ou R$ 40,70 daqui há 5 meses?

Você prefere receber R$ 50,00 agora, ou R$ 103,66 daqui há 10 meses?

Você prefere receber R$ 100,00 agora, ou R$ 208,94 daqui há 1 ano?

Você prefere receber R$ 1.000,00 agora ou R$ 2.497,28 daqui há 5 anos?

Essa perguntas têm três coisas em comum:

1) A maioria das pessoas para quem elas foram feitas, em mais de um estudo, disseram que preferiam o dinheiro agora do que esperar;

2) Quanto maior o tempo que teriam que esperar para receber o dinheiro, maior o número de pessoas que preferiam receber o dinheiro antes;

3) Em todos os quatro exemplos acima, o dinheiro que essas pessoas teriam recebido, se tivessem preferido esperar, é EXATAMENTE o dobro do que teriam recebido se tivessem investido (a valores de hoje)  em uma caderneta de poupança (que é o investimento atual com o pior rendimento possível);

Esses resultados retratam algo importante sobre a natureza humana:

Preferimos receber logo hoje, ao invés de esperar um pouco por algo melhor amanhã. Mesmo que saiamos perdendo muito na troca.

E é sobre isso que vamos conversar hoje.

GRATIFICAÇÃO INSTANTÂNEA

Quando você…

… escolhe ir para um barzinho conversar com seus colegas num dia de aula, ao invés de fazer isso no final de semana!

… decide comprar um sapato que não precisa, ao invés de guardar dinheiro para comprar o relógio dos seus sonhos!

… não resiste e assiste seu programa de humor preferido, mesmo que vá acabar dormindo muito tarde, acordar um caco e passar o dia mal!

Você está sendo vítima da necessidade de Gratificação Instantânea.

Gratificação instantânea é o fenômeno onde uma recompensa imediata é muito mais atraente, do que esperar um pouco mais por uma recompensa mais tarde, mesmo quando a recompensa tardia tem muito mais vantagens.

Só porque esse fenômeno é comum, isso não quer dizer que ele é inofensivo, pode apenas significar que ele está afetando de forma negativa, um número enorme de pessoas.

Um estudo realizado por Walter Mischel na década de 1960 pode nos ajudar e entender as desvantagens de ceder à Gratificação Instantânea e, principalmente, os grandes benefícios que podemos obter, se olharmos para o futuro quando pensamos em recompensas.

O EXPERIMENTO DO MARSHMALLOW

Em 1960 Walter Mischel, na época, professor na Universidade de Stanford, realizou um experimento com centenas de crianças (entre 4 e 5 anos de idade), e descobriu os perigos da Gratificação Instantânea.

O experimento foi idealizado da seguinte forma:

A criança era levada para um quarto, colocavam-na sentada em uma cadeira junto a uma mesa, onde havia um marshmallow (doce feito com raiz de altéia ou xarope de milho, açúcar, albumina e gelatina, batidos até atingirem consistência esponjosa).

Era nesse momento a criança recebia uma proposta.

A criança era avisada pela pessoa que a recebeu, que ela ficaria sozinha na sala por alguns momentos (15 minutos na prática) e que ela poderia comer aquele marshmallow se desejasse.

Entretanto, se ela quisesse esperar, e não tivesse comido o marshmallow, quando a pessoa voltasse, como recompensa, ela receberia um outro marshmallow.

Em outras palavras, a criança podia comer um marshmallow agora, ou esperar um pouco e comer dois.

Despois que essas crianças ficavam sozinhas (com o Marshmallow), aconteceu de tudo:

– Algumas crianças comeram o marshmallow mal ficaram sozinhas na sala;

– Outras começaram a comer na frente mesmo da pessoa com quem estavam conversando;

– Outras fizeram uso de extrema força de vontade, se contorcem, fizeram caretas, mas, mesmo assim, acabaram cedendo depois de alguns poucos minutos.

– E, algumas das crianças, conseguiram esperar o tempo todo, e ganharam o marshmallow extra.

Antes de falarmos sobre o que é possível aprender desta experiência, veja a filmagem do  Experimento do Marshmallow abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=77XIyD0YTqU

O PERIGO POR TRÁS DA GRATIFICAÇÃO INSTANTÂNEA

O real valor do Experimento do Marshmallow, no entanto, está no que foi feito depois dessa filmagem. Essas crianças continuaram a ser acompanhadas pela equipe, ano após ano, para ver se havia alguma diferença entre aquelas que conseguiram resistir à tentação, e aquelas que não conseguiram.

Na realidade, elas foram acompanhadas nos 40 anos seguintes, e a diferença entre esses dois grupos foi gritante. O grupo de crianças que resistiu à Gratificação Instantânea teve resultados melhores na vida, em áreas tão diversas como vida pessoal, vida profissional e relacionamentos interpessoais:

Os pais dessas crianças, quando perguntados sobre seus filhos, tinham uma melhor opinião sobre eles, do que os pais dos que não resistiram;

Nos Estados Unidos, onde o estudo foi feito, para entrarem em boas universidades, os estudantes têm de ter uma boa nota no SAT (algo equivalente ao nosso ENEM). Aqueles estudantes que resistiram à tentação tiveram em média melhores resultados no SAT e, portanto, acesso à faculdades melhores;

Na idade adulta, houve um menor número de pessoas com dependência química dentro desse grupo;

Elas apresentaram uma menor propensão à obesidade;

Um maior equilíbrio emocional;

Maior capacidade para relacionamentos interpessoais de maior qualidade.

Isso para citar apenas alguns dos critérios usados para comparar esses estudantes.

Esses resultados ajudam a compreendermos as possíveis consequências de não resistirmos à Gratificação Instantânea, mais vão além, eles colocam uma pergunta desconfortável em nossas mentes:

O autocontrole necessário para não ser vítima a Gratificação Instantânea é algo com que nascemos, ou é algo que podemos mudar?

UMA LUZ NO FIM DO TÚNEL

O Experimento do Marshmallow de Walter Mischel teve um grande impacto à época e até hoje tem contribuições importantes para entendermos nosso comportamento em situações decisivas. Além de ter sido replicado inúmeras vezes, o experimento também inspirou algumas variações do mesmo e uma delas foi realizada por um grupo de pesquisa da Universidade de Rochester em Nova Iorque nos Estados Unidos.

Eles basicamente reproduziram o Experimento do Marshmallow com um pequeno mas importante detalhe.

Antes de fazerem a proposta de comer um marshmallow agora, ou dois mais tarde, a equipe do experimento passou algum tempo brincando com as crianças.

Na realidade, as crianças foram divididas em dois grupos.

Num dos grupos eles faziam várias brincadeiras, e também faziam várias promessas para as crianças.

Coisas como:

– Vou trazer um lanche para você;

– Vou pegar pincéis melhores, para você fazer uma desenho mais bonito;

– Daqui a pouco vamos passear no parquinho.

Só que para esse grupo, essas promessas não foram cumpridas.

Já no outro grupo de crianças, eles cumpriam todas as promessas que haviam feito.

Só depois de tudo isso é que eles faziam a proposta do Marshmallow.

O que eles perceberam é que no grupo em as promessas foram cumpridas, um número maior de crianças esperava para receber o outro marshmallow.

Enquanto que no grupo de crianças para quem eles haviam mentido, a maioria não confiava que a promessa seria cumprida, e preferiam comer logo o marshmallow.

Afinal de contas elas não tinham razão para confiar que essa promessa seria cumprida.

Veja o vídeo desse experimento abaixo:

[Observação: Esse vídeo não tem legenda automática em Português, mas você pode habilitar a tradução instantânea. E se não sabe como fazer isso, antes veja um rápido tutorial (menos de 3 minutos) explicando como fazer, clicando aqui.]

Esse estudo mostra que a nossa capacidade de adiar a gratificação pode ser controlada, que não está presa a uma habilidade com a qual a pessoa nasce, e isso é muito libertador.

Isso significa que, qualquer pessoa, pode aprender a resistir à Gratificação Instantânea e buscar objetivos mais demorados, no entanto, mais recompensadores.

Mas como eu aprendo a fazer isso?

QUANTO MAIS TARDE, MELHOR

As crianças do experimento feito na Universidade de Rochester, melhoraram seus resultados no Experimento do Marshmallow, porque as condições antes do experimento criaram um ambiente de confiança que as ajudou a tomar a decisão mais acertada.

O mesmo pode acontecer para você.

Se você promover alguns ajustes nas suas condições atuais, quando você tiver de tomar importantes decisões, o ambiente que preparou vai lhe ajudar a fugir do fantasma da Gratificação Instantânea.

DUAS ESTRATÉGIAS PARA FAZER AS MELHORES DECISÕES

#1 LIVRE-SE DE DISTRAÇÕES

Distrações na hora de tomar decisões podem lhe ajudar a tomar as piores decisões possíveis.

Se concentre, se isole quando precisar pensar para tomar uma decisão sobre fazer algo agora ou esperar um pouco, assim você evita agir impulsivamente.

#2 SE FALHAR, VIVA PARA VIVER UM OUTRO DIA

Talvez você já tenha ouvido a frase abaixo:

“Se você me decepcionar uma vez, a culpa é sua; se você me decepcionar duas vezes a culpa é minha”

Ela se aplica muito bem aqui. Ela sugere que não temos sempre como saber se uma coisa vai dar certo ou errado, mas muitas vezes precisamos agir. Nesse caso, se der errado, paciência, temos que administrar o que aconteceu.

Só não devemos persistir no erro.

Neste caso, precisamos entender o que deu errado, e da próxima vez, fazer diferente, fazer melhor, buscar novos conselhos, de forma a garantir que não aconteça novamente.

Mas cuidado, antes de fazer tudo completamente diferente, que tal tentar mudar apenas um pouquinho, pois talvez esse pouquinho seja suficiente para ter o resultado que você deseja.

QUAIS SUAS IDEIAS PARA FUGIR DE DECISÕES PRECIPITADAS?

Certamente você já passou por situações onde teve que decidir se cedia a uma gratificação instantânea, ou se esperava por resultados melhores no futuro.

Talvez você tenha algumas sugestões diferentes daquelas que discutimos aqui.

Não deixe de compartilhar suas experiências, elas podem fazer toda a diferença para outras pessoas da comunidade.